Ainda que todos saibam a brilhante trajetória percorrida pelas mulheres na conquista do seu espaço, a sociedade brasileira pouco se desfez da simbologia de uma família liderada e mantida por um homem, com uma mulher ao lado zelando pela casa e filhos, no papel de submissa e inferior.
No artigo 5º, inciso I, da Constituição, o legislador fez questão de reforçar: “Homens e Mulheres são iguais em direitos e obrigações”, o que somente se alcança na formalidade, já que há uma impossibilidade lógica de se igualar os gêneros.
A proposta ideal seria a “igualdade de oportunidades” e neste aspecto há um fosso imenso entre o direito e a vida como ela é.
Mas a mulher é incansável, e aumenta o passo, quando o assunto é assumir a posição no ambiente político-social-laboral antes ocupados apenas por homens. Em todas as esferas profissionais elas destacam-se pelo sucesso alcançado. Dificilmente hoje podemos mencionar profissões que não possam ser exercidas por mulheres.
No entanto, a graça e ternura das mulheres ainda encontram muitos obstáculos. A violência que se pratica contra o gênero é séria, dura e covarde.
Os maridos, namorados, companheiros, em sua maioria, não compartilham com as conquistas das parceiras, sejam as de cunho profissional e até mesmo independência emocional.
O condicionado culturalmente “homem como provedor” impede o devido reconhecimento da “parceira”, pois ele acaba se sentindo desprestigiado, enfraquecido, sendo muito comum utilizarem-se de agressividade.
E se no lar não há respeito, fora a situação é ainda pior.
Flagrados em plena luz do dia, homens utilizam-se de transporte público para apalpar mulheres e motoqueiros as circundam para passar a mão e constrangê-las, sem se falar nos atos obscenos. É uma sociopatia crônica que precisa de tratamento emergencial.
No ambiente de trabalho as mulheres ainda são as principais vítimas de assédio, se sentindo muitas vezes de mãos atadas em denunciar por receio de perder o emprego.
E qual pecado cometeram? Apenas nasceram mulheres! O trabalho delas é também realizado com o mesmo empenho e a mesma perfeição técnica dos homens
Na verdade, o próprio legislador por um bom período manteve-se inerte. O estupro e outros crimes que violam a liberdade sexual eram denominados de “crimes contra os costumes”, só que o amparo legal a ser conferido sempre esteve relacionado à dignidade da pessoa.
A denominação conferida ao crime de estupro, que antes da modificação legal admitia que somente o homem poderia ser o sujeito ativo (exceto as hipóteses de participação), retratava a rasa compreensão de que a figura feminina representaria apenas um objeto de desejo masculino.
É lamentável que a sociedade não esteja preparada e unida o suficiente para combater esta opressão.
Os resultados das pesquisas que apontaram um perfil machista do brasileiro demonstram a tentativa desonesta de justificar o injustificável. Nessa linha, a sociedade está transformando criminosos em gênios e em um movimento cíclico em que todos se tornam reféns.
São milhares de situações que evidenciam a desigualdade de gênero. Mas, espera-se que o comodismo moral de que nada vai mudar esteja equivocado.
A convivência com esta violência, seja ela física, moral, material, sexual, por perto ou distante, incomoda cada vez mais, chama a atenção e conta com a indignação dos profissionais da mídia, da saúde e dos operadores do direito, que fielmente denunciam e divulgam as barbáries, causando repulsa.
Cabe a mulher assumir o papel de protagonista de sua história, com a coragem necessária para romper o processo de hostilização que sempre sofreu.
Não se trata de disputa de gêneros. Diferenças entre homens e mulheres sempre existirão, não sendo iguais, mas em equilíbrio se completam.
Silvia Hage
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